O dia em que meu sonho se realizou
Pouco mais de três meses atrás, meu sonho se realizou. Mas, essa historia toda começa a muitos anos atrás.
Desde 2006 eu falava para todos que ia morar na Alemanha. Ninguém entendia muito bem o porquê, mas todos acabavam aceitando esse meu sonho. Alguns brincavam com isso, claro, e outros torciam por mim. Independente de quaisquer que fossem os sentimentos das outras pessoas, positivos ou negativos, isso me dava gás para acreditar ainda mais que eu conseguiria realizar.
O sonho começou de uma maneira muito aleatória — ou talvez nem tanto. Em 2006 acontecia a Copa do Mundo na Alemanha. Assim como em qualquer copa, a energia é diferente. Mas foi quando eu comprei o álbum da Copa e comecei a ver as páginas, os jogadores e estádios, que algo diferente começou a se pronunciar em mim. O despertar total do sonho veio durante um jogo da Alemanha, quando assisti Bastian Schweinsteiger jogar. Aleatório demais, não é? Eu também acho. Mas bastou só isso para que eu começasse a afirmar “um dia eu vou morar na Alemanha”.
Só que tem uma coisa sobre sonhos que nós não falamos muito: a gente não acredita que eles realmente possam se realizar. Temos aquela vontade de realizar, beleza, mas nem sempre fazemos tudo para realizá-los. E eu confesso que não fazia muita coisa para realizar isso.
Mas enfim, passado um tempo do início do sonho e da falação de #VouMorarNaAlemanhaUmDia, isso meio que ficou lá em banho Maria. Eu falava para todos, mas não me movia para realizar. Na Copa de 2010, com o som das vuvuzelas torando nos nossos ouvidos, assisti aos jogos mas ainda não fazia nada para realizar esse tão falado sonho. Só que é aquilo também: algumas decisões que a gente toma, acabam nos levando para o caminho que temos que seguir.
Então, em 2011, eu comecei a acompanhar o Bayern de Munique. Por que? Oras, por causa do Bastian Schweinsteiger, de novo! E lá estava eu, mais uma vez, contra tudo e todos, explicando agora porque também torcia para um time alemão. Não, não bastava torcer apenas para a seleção alemã, tinha que ter um time também.
Eu vivi esse amor pelo Bayern sozinha por um tempo. Até que um dia resolvi encontrar pessoas que compartilhavam da mesma paixão que eu. Então, em 2013, eu entrei no Facebook e busquei um grupo de fãs do Bayern de Munique no Brasil. E encontrei.
E é muito bom encontrar pessoas que dividem a mesma paixão que você. Finalmente eu me sentia pertencente a um grupo.
E lembra que comentei lá em cima que as decisões que a gente toma, nos levam para o caminho que temos que seguir? Pois bem, entrar nesse grupo foi uma dessas decisões.
Adicionei várias pessoas do fã clube no Facebook, fiz amizades incríveis e conheci pessoas maravilhosas, mas tudo pela internet apenas. A maior parte da torcida ficava em São Paulo e eu morava em Belo Horizonte.
Então agora a gente corta pra 2018, o ano em que eu dei a louca — no bom sentido, claro!
2018, Copa do Mundo rolando de novo, eu completamente entediada com minha vida empacada em BH, decidi viajar para São Paulo e assistir a um jogo da Alemanha com a torcida de SP. Sozinha, sem ninguém e sem conhecer ninguém pessoalmente. As pessoas achavam que eu tinha ficado doida de vez. Mas não, eu simplesmente quis algo diferente do que estava habituada.
Mais uma vez: decisões que levam para o caminho que temos que ir. Nessa viagem, conheci pessoalmente o meu marido — pessoalmente porque já tinha ele adicionado no Facebook desde 2013. E o que nos uniu eram as paixões e o sonho em comum: Bayern, Alemanha e mudar para a Alemanha.
Desde que a gente ficou junto, essa era nossa meta. Tentávamos vagas para empresas alemãs e foram negativas atrás de negativas. Muitas vezes não chegávamos nem na etapa de entrevista. Outra vezes éramos descartados após uma única entrevista. Mas em nenhum momento desistimos. E ainda bem! Porque no final de 2021 o sonho começou a tomar forma. O emprego na Alemanha veio para o meu marido.
E foi um Deus que nos acuda de comemorar, preparar documentos, olhar passagem… Mas para mim ainda não era a hora. Eu iria ficar no Brasil para cuidar dos documentos do Bartolomeu, nosso gato. Afinal se o Bartolomeu não fosse, ninguém ia. E isso aumentou ainda mais a minha ansiedade. Pois o sonho estava logo ali, mas à alguns meses de distância.
Eu ainda não acreditava. Todo mundo que me perguntava como eu estava me sentindo eu dizia apenas “Não sei, ainda acho que é mentira. Que o Sérgio malandro vai aparecer e falar que é pegadinha”. Mas não era. Eu só não conseguia acreditar.
No dia que eu comprei minha passagem, eu não acreditei. No dia que o Bartolomeu foi liberado para viajar, eu não acreditei. Quando eu embarquei no voo LH 507 no dia 09/06/2022 e olhei meu cartão de embarque indo para Frankfurt, eu não acreditei.
No entanto, quando finalmente foi liberado abrir a janela do avião e eu comecei a ver a aproximação em Frankfurt, caiam as lágrimas de emoção. E aí sim eu acreditei.
Foram 16 longos anos de espera, sem fazer muito para que isso acontecesse. Mas foram as pequenas decisões que me colocaram no caminho certo.
Hoje, 3 meses depois, tem momentos em que eu não acredito que cheguei aqui. Que a Alemanha me recebeu de braços abertos. Que já estou trabalhando e estou totalmente legalizada.
Quando eu olho as casinhas típicas, eu fico maravilhada ainda, como se as visse pela primeira vez. Quando eu vejo as coisas no supermercado — e não entendo nada — a ficha cai de novo.
No dia que eu pisei no estádio do Bayern de Munique, vi o tamanho da Allianz Arena, que eu bebi em uma cervejaria com quase 500 anos, foi um dos dias mais incríveis e felizes da minha vida.
Ainda é muito surreal que eu esteja realizando esse sonho todos os dias. Que eu não estou dormindo e que eu não preciso ter medo de acordar.
Mas é como diz a música Dream On do Aerosmith: Dream until your dreams come true. ou até mesmo aquela música da Pussycat Dolls: Be careful what you wish for, ’cause you might just get it.
E para finalizar com o clichê: eu realmente espero que todos possam realizar seus sonhos um dia, porque viver essa sensação é bom demais!
