A história de resistência do Bayern perante o nazismo

Stéphanie Freitas
4 min readApr 2, 2019

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Kurt Landauer

Uma mancha na história, não só da Alemanha, como também do mundo todo é e sempre será, o período do Nazismo. Mundialmente conhecida, o período comandado por Adolf Hitler, se tornou algo que jamais será esquecido. E este não aceitava que fossem contra a sua ideologia. Mas o Bayern se destacou nesse período por sua postura antinazista.

O time do Bayern é o maior da Alemanha e, também, um dos maiores da Europa. O gigante da Baviera é conhecido pelo seu futebol espetacular e por seus inúmeros títulos. Mas existem fatos históricos que fazem com que o clube se torne ainda mais respeitado no mundo.

Em meio à ditadura do Terceiro Reich, pequenas atitudes do clube contra o nazismo fizeram com que ele passasse por períodos difíceis, que quase o levaram a sua extinção.

Um dos primeiros problemas em relação à ditadura nazista, era que o presidente do Bayern na época, Kurt Landauer, era judeu. Logo após a ascensão dos nazistas ao poder, o presidente renunciou ao cargo. Ele foi preso e levado para o campo de concentração de Dachau. Mas como havia lutado na Primeira Guerra, foi liberado e assim emigrou para a Suíça.

O técnico do time na época, Richard Kohn, também era judeu. E, assim como o presidente do clube, ele deixou o Bayern e emigrou primeiro para a Espanha e depois para a Suíça.

Mesmo Kurt Landauer estando na Suíça, o Bayern manteve a sua fidelidade ao seu presidente e declaram que Landauer ainda era o dirigente do clube. E ainda deixou claro que as regras impostas pelo regime seriam aceitas, mas a ideologia não seria compartilhada.

“FC Bayern e eu pertencemos um ao outro e somos inseparáveis” - Kurt Landauer

Um acontecimento que comprova essa fidelidade, é de um amistoso do Bayern na Suíça e Landauer se encontrava na arquibancada. O time foi até ele e o aplaudiu durante vários minutos. O time só parou de aplaudir Landauer, após os policiais da Gestapo os ameaçarem.

Com essa declaração e atitude, os problemas aumentaram. Os nazistas responderam a essa afronta apoiando e financiando o rival local do time, o TSV 1860 Munique. O rival possuía campos de treinamento de nível elevado e facilidades na hora de gerir as licenças dos jogadores que iriam servir ao exército. Já para o Bayern, tudo era um obstáculo e problemas. E os obstáculos se tornaram tão grandes ao ponto de o clube ser obrigado a ter que demitir alguns de seus jogadores — que eram judeus.

Troféus escondidos por Conrad Heidkamp

Outras pequenas atitudes antinazistas fizeram o sangue do Terceiro Reich ferver ainda mais. Como, por exemplo, o atleta Wilhelm Simetsreiter que decidiu posar para uma foto ao lado do atleta negro Jesse Owners, durante as Olimpíadas de 1936. E o capitão do time da época, Conrad Heidkamp, que escondeu a prataria do time quando os nazistas vieram procura-las para ajudar na Guerra, o que reforçou a atitude antinazista do time.

Após o final da Segunda Guerra Mundial, Kurt Landauer voltou à Munique, onde foi eleito presidente do clube pela terceira vez em 1947. Seu mandato acabou em 1951.

Atos como esse, de não se curvar à ditadura de Hitler, renderam ao clube não só o apelido de Judenklub, mas também o prêmio Julius Hirsch por sua “resistência contra o socialismo nacional”, concedido em 2005.

A história antinazista do Bayern foi silenciada nos anos pós-Guerra. Mas foi colocada em jogo de novo depois da abertura do museu do clube na Allianz Arena. Ainda há quem diga que o time ou não fez nada de demais ou que simplesmente se curvou ao nazismo depois de algum tempo. A resposta do clube a este insulto foi solicitar um estudo independente por historiadores neutros.

Esse legado deixado pelo Bayern deixa claro que alguns alemães não eram favoráveis ao regime nazista. A sua história de resistência será sempre lembrada pelo clube e por seus torcedores, que se afeiçoaram ao passado judeu do clube e já levantaram uma bandeira homenageando Landauer. E sentem um orgulho imenso em saber que o time teve uma participação tão importante numa época tão difícil.

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Stéphanie Freitas

31, mineira, publicitária, bávara e cruzeirense. Escrevo sobre o cotidiano e futebol.